clube dos cómicos iconicolinguísticos

um espaço afinal de partilha de ideias e sonhos, textos e afins, enfins que visam fazer contra-corrente por um mundo melhor... os ideais não colocam pão na mesa, mas se assumidos fazem a diferença em redor. fluir simplesmente e amar ferozmente o mundo.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

sensibilidades


diogo festa http://www.diogofesta.blogspot.com/


Seguindo o luminoso traço dos astros vou rumando ao fim do Mundo onde brota de uma nascente um imenso sonho profundo. Vou mergulhar bem fundo e encontrar o exacto local em que ferozmente caos e cosmos se fundem e confundem. E quando vier à terra do meu ser, terei resposta para a vida que constantemente teima em renascer por dentro de mim, terei o segredo de todas as coisas, terei a possibilidade de uma eternidade gloriosa.
Estranhos sulcos rasgarão o coração e um suave manto de vermelho sangue cobrirá todos os corpos, todas as vidas, até mesmo o real espaço-tempo que nos rodeia. Surgirão sombras escusas carregando ecos dispersos de mistérios transcendentes e seremos iluminados por raios espelhados de origem primitiva. Nada será total conhecido mas nada será absolutamente esquecido.
Tudo será torrente, tudo será diferente, basta-nos encontrar a nascente e nela mergulhar…

m.

nota: este texto foi feito especialmente e a pedido para esta imagem. agradecimentos ao Diogo pela oportunidade e conselho a visitarem o site dele.

sexta-feira, dezembro 29, 2006

origens estranhas de nomes afins




Já passaram seguramente 15 anos desde que ouvi pela primeira vez a expressão "iconicolínguísticos".
A expressão era utilizada pelo meu professor de língua portuguesa, alta e vasta figura, imensas barbas, voz pausada e troante, com o seu casaco ou samarra apertados e a sua pasta gasta no tempo.
O professor Arménio Santos tentava que desde pequenos pudessemos ter um vocabulário correcto e conhecimentos abrangentes. Ainda ecoam nas memórias as suas preocupações relativamente ao acordo ortográfico luso-brasileiro e aquele dia em que surgiu a expressão encantatória"iconicolinguísticos", advinda da gramática antiga.
O nome desde espaço surge também nessa altura, e mais não era que dois pequenos miúdos brincando com palavras, inventando histórias e piadas. Tempos tão engraçados e coloridos dos quais tenho imensa saudade.
Hoje em dia o mesmo nome dá sentido a uma partilha tranquila e ponderada de palavras e sentimentos que não tendo porventura piadas latentes, tem sem dúvida uma visão alegre do mundo, um forte desejo latente de abraçar o mundo e de partilhar a história de duas pessoas que sonham-se e amam-se.
O nome é estranho mas a mensagem tem segredos de verdade imensa....
foto: "fonte" - amílcar costa

segunda-feira, setembro 04, 2006

sounds of the Sea: quase melancolia entre...


*Sounds of The Sea, 2000

*Yaroslav Kurbanov

Encontrei-a enquanto falavamos (termo de pesquisa «sounds of the sea»). Gosto da sua discrição, conseguida apesar da nudez. Uma primeira sensação de que as cores estariam desbotadas-esbatidas. Uma segunda e mais verdadeira sensação de que assim está bem: o imaginário que transporta. Quase melancolia entre um pormenor e outro. Sal e tristeza, num fim de noite interior. A tranquilidade de novo e uma renovada vontade de descobrir o mar. Somos.

terça-feira, agosto 15, 2006

nós


Como luz clara.
Como sombra dispersa.
Como um gesto.
Como adeus.
Como azul-doce.
Como história quebrada.
Como mar calmo e intermédio.
Como transparência.
Como ausência feroz.
Como vitória feliz.
Como sorriso de vitória feliz.
Como canção.
Como sequência.
Como rastro.
Como mão-de-amor.
Como pureza.
Como concha entreaberta.
Como Tu.
L.
(imagem) «Romance» de Regina Pereira Lopes

terça-feira, junho 20, 2006

LABIRINTOS de SONHO

The Fantasy Within Collection by Lorlei
Entrecruzam-se em mim
Labirintos de sonho,
Teorias do que serei
Realidades que nunca tocarei
Esperanças fugazes
De um amanhã distante,
Sorrisos de um talvez
Anjos de asas cortadas
Sombras de luz dúbia, inquietante
Luas camufladas
Gritos de eco baço, irritante
Quases de coisa nenhuma.
L.





sexta-feira, junho 09, 2006

Confissão

Somos
o caos inconfundível
de uma juventude
que trilha um caminho de inquietude

Somos
um povo vazio
que não tem nada
senão recordações
de uma vida passada
Somos
uma juventude
perdida e destruída
uma juventude
sem rumo na vida

Sim... somos os caos , a inquietude e não temos rumo certo na vida; porque esquecemos que a beleza da Alma é mais cativante que a do corpo, porque não reparamos que o Bem é o belo tornado acção, porque não vimos que a delicadeza é um requinte da beleza e que ela se manifesta na cortesia do convívio com os outros, porque esquecemos que a pureza é irmã da alegria e que esta é o sinal da beleza interior.
Mas por mais terrível que uma situação possa parecer, nunca é tarde demais para uma Esperança; é preciso que todos nós sejamos unidos e conscientes dos nossos deveres, escolhamos um caminho com rumo certo e que esse rumo seja a expansão de uma nova aurora para as nossas vidas; porque em nós está a possibilidade de termos amanhã um novo Mundo, cheio de paz e amor, e, para isso basta lembrar tudo o que esquecemos, quando corriamos loucamente para o caos e para a inquietude.

Amílcar António da Costa (1973)


Nota: este texto foi escrito em 1973, quando o autor tinha 20 anos e era um nobre louco, acreditando e lutando por um mundo melhor. seu filho herdou essa mensagem e vai tentando segui-la e partilhá-la...

pensamento na manhã dispersa


gregory colbert, direitos reservados



Se o chão me acolhe devagar, caminho então por essa outra estrada imaterial que se chamas tu: sonho, em mim. Não pergunto como estás, não sei exactamente se quando digo «casa» tu ouves «casa», mas tanto importa. Ambos sabemos, em essência, o que pensamos sobre isso e o que Deus teria como definição, se acaso perguntasse. Entra, ouve, senta-te aqui, de frente para o mistério, onde podes olhá-lo quase tranquilamente, como a um bom irmão.
L.




sexta-feira, março 17, 2006

Segredo


Graham Jeffery





Eu sempre me sentei no segundo banco da praça.
Era um banco com rosas altas e alérgicas tílias em volta.
Eram meninas, corridas, mães, bolas, bengalas.
Tudo claro e verdadeiro, palpável, com graça.
Um céu aberto, mais além azul-mar.
O livro e eu.
Sentado, encostado, cruzado, cansado, deitado,
Sorrindo, a pensar, a sonhar.
O mundo era enorme e de rotação perversa.
As horas paravam junto a mim, abstractas.
Tudo era normal e conhecido, ponteiro-rotina marcado,
Tudo igual até um certo dia afinal...

Vi-te ao entardecer...
Conheço-te nos olhos meigos, cara-menina, cabelos curtos.
Não eras estranha, surpresa, novidade ou notícia,
Mas nesse dia, súbito raio de luz, senti-te mulher.
Vieste na minha órbita-direcção em passo acertado.
Um movimento sem ruído, doce volteio no ar, flutuando.
Sentada no mesmo (meu) banco nada disseste...
Tu bela, eu perto, tu serena, eu quente, tu anjo, eu calado.

Silêncio tranquilo e num repente perguntas:
O porquê de eu estar ali sentado, o meu nome, os meus sonhos,
Se estou à espera, se de partida, se vou ficar.
Quero conhecer-te, gosto do livro, gosto de ti.

Digo sozinho, vida agitada, ideais.
Diz-me esperar todos os dias pela minha presença.
Digo fixa no meu pensamento, lugar na memória.
Diz-me que sim, simpatia, mas é pouco, quer mais!

Digo que mais se pode pedir, o que há para dar.
Diz-me que não há procurar ou encontrar, simplesmente construir.
Digo pois, com calma se faz o caminho certo.
Diz-me que sim, mas nada a perder, arriscar sonhar.

Secretamente, a medo, sempre desejei a felicidade.
Nunca a esperei, pois não parecia que estivesse para vir.
Tive uma vida de sonhos imensos, mas sem ilusões coloridas,
E agora um furacão devasta inteiramente todo o meu ser.

A partir daquele sol-tarde tudo foi diferente.
Eu lutei, arrisquei, procurei, acreditei, descobri... consegui
Ela foi a ajuda, o ensino, o carinho, o incentivo.
Crescemos adultos-idade, sorrindo ternamente.

Fomos intensos, somos eternos e confiantes.
Fomos confusão, mas somos a única solução dos nossos problemas.
Eu quero e vejo os meus sonhos reais e palpáveis.
Tu, um piscar de olhos, e as sombras ficam distantes.

Há muito que não vinha à praça,
Sentar-me no segundo banco a sorrir, a sonhar.
Já não há rosas, apenas uma velha tília sem folhas,
E há um homem que tarda, uma bola, uma criança que passa...

Memórias repentinas, eu estou um pouco cansado.
Estás cada vez mais menina-bonita e querida,
E no banco da praça, juntos em mãos calmas,
Saboreamos o vento seco, o doce travo do passado.

Todos os dias olhos abertos a ti, coração profundo.
Um beijo, um pouco mais de música, sentir.
Eu, os mesmos sonhos, as imagens-fotografia, tu.
A casa, a cidade por inteiro e grosso modo, a razão.

Obrigado, amiga-mulher, minha vida.
Obrigado meu pai-anjo, guardador de todos os meus passos.
Obrigado sol e brisa, pelo conforto e alento, pela presença sentida
No segundo banco da praça, sempre a partir do meio do dia...